terça-feira, 25 de outubro de 2011

Teatro e religião

"A investigação das origens do teatro deve ser realizada, sem dúvida, no animismo e na magia. Com efeito, parte da atividade dos grupos humanos primitivos é caracterizada pelo animismo, elemento passivo, e pela magia, elemento ativo da religião no momento de seu aparecimento, e podemos verificar que as primeiras formas reais do teatro se criam e se desenvolvem ao mesmo tempo que se criam e desenvolvem os ritos, as cerimônias e os cultos.
É evidente que, antes do mais, o homem tem que comer, de beber e de abrigar-se; as forças exteriores, e sobretudo as da natureza, dominam a vida quotidiana original, apresentando-se ao homem com um caráter de estranheza inexplicável. O homem imita a utilidade, e a primeira imitação é, sem dúvida, a do animal, que ele tem necessariamente de matar. Em redor do fogo, onde a horda se reune, as sombras facilitam o mistério; o movimento das chamas convida o corpo a dançar, enquanto sobre as faces os reflexos modelam uma máscara; um homem serve-se então do seu corpo para comunicar com o grupo e os seus movimentos criam a primeira linguagem. Este jogo mimético é já teatro; oferecendo-se em espetáculo o homem é já um ator.
Mas a impotência em lutar contra certos elementos , como a trovoada ou a inundação, provoca neste homem primitivo a crença no sobrenatural, em espíritos. Mais tarde, num estádio mais evoluído, ele acreditará na sobrevivência dos antepassados, depois em deuses. Para a sua mente, o mundo surge ainda desdobrado, e nasce então um mundo misterioso, onde ele descobre 'visões encantadas', imagens que despontam do seu cérebro, que lentamente vai adquirindo vida própria, não tardando a esboçar representações.
Por esse motivo pode-se dizer da religião que ela é o reflexo fantástico da existência humana. Os meios do teatro teriam nascido, pois, por assim dizer, da necessidade técnica de exprimir esse 'reflexo fantástico'.
Da mesma forma, também a história do teatro se apresenta como a história de uma das formas da atividade humana, e, precisamente por isso, está constantemente submetida às leis do desenvolvimento social do grupo, do clã ou da tribo (e depois da cidade, da nação ou do Estado).
[...]
O teatro como todas as outras formas de expressão, tornar-se-á cada vez mais uma conquista, uma forma de conhecimento, um vínculo social, uma arma e um enriquecimento do humano, uma tomada de consciência, um espelho da sociedade. O teatro recorrerá às outras artes (poesia, dança, música, pintura) para se aperfeiçoar. A ordenação do espetáculo não cessará de se enriquecer com exigências temporais, com invenções materiais e espirituais. Esta espécie de nascimento do teatro chegou ao seu término: o teatro torna-se um meio para o homem e para a sociedade. A sua história principia."

Moussinac, Léon. HISTÓRIA DO TEATRO - Das Origens aos Nossos Dias

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